Despedidas – segunda parte e Cachorro manco

No princípio Deus criou a terra, o Canadá, a imigração e duas filas. Numa estrava escrito “com emoção”, na segunda “sem emoção”. Escolhemos a primeira. Aliás, gostamos tanto de lá, que entramos várias vezes nessa fila.

Vocês viram que na primeira parte das despedidas, lá em Fortaleza, tudo foi muito tranquilo e sereno. Já nos enganamos tanto nessa vida, que achamos que tudo, a partir de agora seria mais fácil, pelo menos até chegar ao Canadá. Acreditávamos piamente que nas últimas semanas tudo seria tranquilo, afinal, somos pessoas bem planejadas e fazemos tudo no mínimo detalhe (eu, le publicitaire, sou bem mais exagerado nesse quesito que o l’architecte. Gostaria muito de ser mais flexível e menos caxias, mas a vida me fez assim).

Bom, embarcamos dia 11 de março para o Rio Grande do Sul. Passaríamos 10 dias. Levamos coisas para doar, livros para alguns parentes levarem pro Canadá quando fossem nos visitar e o Dexter (nosso cachorro).

Levamos o Dexter conosco porque nessa altura da aventura, pagar um hotelzinho aqui em São Paulo por 10 dias seria muito caro e nosso precioso ouro não estava brotando do chão. A viagem com o Dexter de avião sempre foi muito tranquila. Acho que ele já está acostumado a viajar de avião, fica quietinho, sem precisar tomar remédio para dormir, etc. Embora pra mim, pra variar, sempre me deixe bem apreensivo e nervoso com toda a função, documentação e afins para levá-lo com a gente na cabine.

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Tudo como o planejado. Chegamos em Porto Alegre, l’architecte foi direto buscar as malas e eu sai com o Dexter para ver se ele fazia um xixizinho ou um cocôzinho. Ele só queria se esfregar na grama do aeroporto. Logo pegamos um taxi para casa.

Na casa da família do l’architecte tem uma dachshund (salsichinha) que laaaate feito uma condenada. O Dexter, que nunca late (exceto quando tocam na porta), começou a imitá-la, latindo toda vez que ouvia um simples barulho em casa. Eles brincaram, latiram, se estranharam algumas vezes, mas tudo bem.

Estávamos cansados com a viagem. Acordamos cedo, pois a viagem era as 8h e como tinha o cachorro, os procedimentos de embarque deveriam ser feitos ainda mais cedo que de costume. Almoçamos fora e voltamos para dormir um pouco. Acordei e vi o Dexter quietinho, mancando. Peguei nele já nervoso e ele começou a latir. Puta que o pariuuuu. Faltando 15 (quinze) dias para nossa viagem pro Canadá ele resolve fazer uma coisa dessas? Pulou do sofá e teve um entorse na pata dianteira. Sério… eu, que já estava numa situação de calamidade pública, cansado, estressado com a viagem, ansioso, em pânico, com tudo, ainda tinha um cachorro manco chorando para cuidar e torcer que ficasse bem até o dia de embarcar.

Fomos no veterinário. A veterinária pediu para fazer um raio-X, ver se tinha alguma fratura e tal… E eu só pensando na merda que ia ser ter que viajar pro Canadá e deixá-lo aqui para depois vir buscá-lo. Pelo menos foi só um entorse. A médica passou uns remédios para dor e outro para refazer/acelerar a cicatrização da lesão do ligamento e imobilizou a pata dele com uma tala, que precisou ser tosada no zero.

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Eu fui para o RS para descansar de toda a função em SP e visitar meus parentes na serra. Com o Dexter no estado que estava, l’architecte ia ter que cuidar de tudo sozinho enquanto eu viajava outra vez.

No fim, gastamos tanto dinheiro com raio-x, talas (3 que foram feitas e trocadas), medicamentos e paciência, que o valor gasto teria dado para hospedar uns 2 cachorros num dos hoteizinhos mais caros de SP. Voltei para SP sozinho com ele enquanto l’architecte resolvia outras pendências lá. A parte boa é que ele não está mais mancando, porém está com uma perna horrível, sem pelo e fininha como um graveto devido a tosa para colocar a tala.

No dia seguinte vi o Dexter se lambendo e se mordendo na pata. Devia estar coçando muito. Quando vi, a dobra da perninha dele estava vermelha, assada por conta da tala. Tirei imediatamente e levei ele pra outro veterinário aqui em SP. Resultado, mais uma consulta para pagar. Agora, além da  perna-horrível-sem-pelo-e-fininha-como-um-graveto, agora tinha também uma ferida.

Nosso cachorro estava com uma perna-horrível-sem-pelo-e-fininha-como-um-graveto-e-com-ferida. Tudo essa aventura e ainda tendo que dividir o tempo entre as despedidas dos amigos, os almoços, as jantas, os happies… Pelo menos conseguimos ver o maior número de pessoas possível.

Em São Paulo, aproveitamos a ida no veterinário aqui para pedir o atestado de saúde internacional para conseguir fazer o CZI (Certificado de Zoonose Internacional) no Ministério da Agricultura – Vigiagro, no aeroporto de Guarulhos. Meu medo era que essa perna fina dele e a feridinha pudesse deixar as coisas ainda piores.

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Amanhã embarcamos para o Canadá e a gente espera, de coração, que as emoções tenham se encerrado por aqui. Caso contrário, meu coraçãozinho não vai aguentar.

Beijos, uma lambida e até quinta, em terras canadenses.